"Calei-me durante mais de quatrocentos anos, as minhas palavras perderam-se no silencio da morte; mas, aqueles que se detem um instante diante do meu busto, gostava de lhes dizer quanto lamento ter sido, ao longo dos seculos, reduzido apenas a cor da minha pele. Gostava de lhes contar a minha historia, falar das minhas crencas, das lendas do meu povo, evocar a loucura dos homens, a sua grandeza e a sua baixeza. Se os curiosos pudessem ao menos ouvir-me, saberiam que por baixo da pedra que contemplam durante alguns segundos sobrevive uma memoria esquecida, a dos escravos, oprimidos e sofredores, com quem me cruzei durante uma longa e perigosa viagem sobre um oceano, dois mares e tres continentes." O Negrita (Cena 1) "A forte impressao causada pela leitura do romance do congoles Wilfried N'Sonde, Um Oceano, Dois Mares, Tres Continentes, sobre uma personalidade muito mal conhecida da Historia angolana, levou-me a extrair dele esta peca de teatro a que dei o bem nutrido titulo de Filho bem-amado do Kongo: Nsaku Ne Vunda/alias Dom Antonio Manuel/alias Marques de Funesta/alias O Negrita." O autor